quarta-feira, 14 de setembro de 2016

#5. QUASE UMA GLOSA (Eugénio de Andrade, 1923-2005)

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Os olhos tinha-os azuis, de um azul que nunca distinguiu. Uns olhos que consumiu a sonhar. Sonhava impenitentemente porque, à sua roda, tudo morria à míngua de autenticidade. Isto lhe doía. Isto lhe doía mais do que a pobreza dos pescadores da Canteireira ou dos camponeses da Nespereira, a quem deu por inteiro a sua ternura -- tanta, que raras vezes, na nossa língua, ela terá crepitado assim, alta e sem mácula. Não são os pobres, na sua pobreza, os que mais se negam e se atraiçoam. Quem menos tem é quem mais perto está de se ter a si próprio. Isto sabia, por isso lhes envolvia os trapos com o calor dos seus olhos, ou se consumia a reinventar-lhes a trágica e grotesca morte de cada dia. O sonho é o seu reino: só aí ninguém abdicará da sua alma. Nele se refugia para ouvir um fio de água que não sabe bem donde discorre, de tal modo, em certos instantes, ele e a natureza são um acorde perfeito. Era uma fonte assim que procurava em cada homem, a fonte do ser, onde a transparência da água e o ardor do fogo se reconciliavam. Mas o homem negava-se ao acorde fundamental, a esta voz da origem, a única que o podia religar ao mundo. Salvo nos momentos privilegiados do amor, o homem era o que havia de mais errante na terra, em busca perpétua do seu próprio rosto. Com «a mentira entranhada na carne», a «alegria dos instintos» perdida, os seres, como as coisas, apodreciam -- «só mesuras, só baba, só rancor». O próprio amor era o que havia de mais frágil: um suspiro bastava para matá-lo. No deserto que criara, o homem era só abandono. Como escapar à miséria da sua condição? Deus teria um dia misericórdia do homem, como acreditava Pascal? Deus estava morto e o homem não nascera ainda. Ou teria já nascido? Cada deus que morre não é a anunciação do seu nascimento? Havia pois possibilidade do homem se erguer, de trapo em trapo, à luz do seu rosto, e usar o coração sem usura? Pois pode o homem nascer fora do nosso coração? Cada pergunta sua tropeçava no homem. E haveria outro esplendor por que perguntar, outra maravilha com que sonhar? Não, não havia. Fora do homem não há absolutamente nada. É por ele que grita, é por ele que sangra até aos ossos. Para que se desoculte, tome posse de si, e viva, «não como ser individual com nome no cadastro, e uma profissão -- mas como força e destino». No negrume procura ouvir os seus passos, mas na noite apenas ouve o caruncho a roer a madeira do seu coração. Que absurdo mundo este, onde o homem é só ausência do homem. Absurdo. Espesso. Opaco. Palavras! A inutilidade das palavras! De que lhe serviam essas, aí, de raiz amarga, que lhe vinham à boca a todas as horas? Palavras que perseguia na noite, ou o perseguiam, quem sabe? Que sonho, com elas, teciam ainda as suas mãos, essas mãos que tanto acariciaram a terra, e onde todo o espanto se refugiou? Era um poeta -- às palavras estava condenado (quero eu dizer: à inquietação que toda a palavra é), mas só elas o poderiam salvar. Só nas palavras as trevas do seu ser se abriam para a luz. E não era a luz toda a ternura do mundo? Por isso se lhes abandonava, com uma confiança que nunca dera à vida. Quando, oh quando poderia regressar ao azul limpo dos seus olhos, sem tropeçar na angústia mais viva? Que voz o poderia reconduzir aos dias em que a consciência de existir não era ainda a consciência de ser uma só e paciente espera da morte? Contra a morte só tinha as palavras -- as que lhe subiam à boca. Na «noite velha» cantava. Cantava para sua mãe que, debaixo da terra, talvez o ouvisse ainda; ai cantava para o Nel que, passados tantos anos, ainda via subir às figueiras, aos figos lampos para lhe dar; cantava para aquela velhinha que, lenta, lentamente, subia a ladeira apoiada numa bengala. Cantava para a transparência do mundo...
De Raul Brandão, pois foi dele que tentámos falar se poderia dizer o que ele maravilhosamente disse de sua mãe: gastou-se a sonhar. Alguns dos seus sonhos são ainda os nossos -- eis porque está tão vivo no nosso coração.


VV. AA., Raul Brandão -- Homenagem no Seu Centenário, Guimarães, Edição do Ciclo de Arte e Recreio, 1967

Nota - Um notabilíssimo texto, impregnado do pathos  da narrativa brandoniana.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

#4. PEDRAS BRITADAS (Afonso Duarte, 1884-1958)


1

O conhecimento das Instituições elementares da Retórica, -- espécie de natureza-morta, ou Mecânica das palavras em ordem à Harmonia, -- não faz mal a ninguém; mas a condição essencial de todo o artista é escrever com as palavras mais próximas da vida.

2

Não me convidem nunca para discursar em público: Eu não sou dos que gastam meia hora de adjectivos a empurrar um substantivo comum.

3

Uma varina conversa comigo:
-- Achei esta bolsa no chão, e apanhei-a, julgando que tinha alguma coisa -- nem chapa de leque!
-- Calei-me e -- arrecadei o oiro...

4

Coaxam rãs nos pântanos sombrios e dá o luar nos lagos?
Belo cântico espasmódico para um poeta saudosista...
O  que se pede é que nos pântanos se plantem eucaliptos -- esses peraltas da vegetação!
Os corpos pedem higiene e as almas velocidade para o bem de todos.




presença n.º 1, Coimbra, 10 de Março de 1927 



#

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

#3. A "ESPANHA" DE ANTERO DE FIGUEIREDO (Rebelo de Bettencourt, 1894-1969)

Esta «Espanha» de Antero de Figueiredo, não é a Espanha dos espanhóis nem a Espanha que nós vemos. É a Espanha que Antero de Figueiredo vê através da sua emoção de artista e da sua saudade portuguesa. Não é um livro de viagens comuns -- é um livro de viagens dum coração que vibra «ante a beleza novidade exposta aos olhos viandantes» para aprender a sentir melhor, com mais fina ternura, a beleza «bendita e louvada da terrinha de Portugal».

          Fui à França e «não» voltei francês;
          Fui à Espanha e «vim» português.

Depois das suas admiráveis «Jornadas em Portugal» -- Antero de Figueiredo escreve a «Espanha», que não é mais do que a continuação desse livro.
Na verdade a «Espanha» é a segunda parte das «Jornadas em Portugal». É a mesma emoção que aquece as páginas desses dois livros; é a mesma «paisagem interior» que nós vemos diante das duas paisagens -- a portuguesa e a espanhola. O próprio Antero de Figueiredo é quem nos vem confessar a sua sensibilidade nacionalista, primeiro com um terceto da «Corte da Saudade» de António Sardinha:

          Em todo o mundo há terra portuguesa,
          desde que a alma a tenha na lembrança
          e a sirva sempre com fervor igual,

depois com as palavras saídas da sua pena, dizendo-nos que «continua a ser, neste novo livro de «Jornadas» um faccioso português que viaja na sua terra, ainda quando viaja mais na linda terra alheia».
Antero de Figueiredo é um dos mais altos e mais belos prosadores, no melhor e mais nobre sentido. Não escreve mecanicamente, alinhando palavras mortas, que são sempre mais belas aos nossos olhos do que aos nossos sentidos. Para Antero de Figueiredo, escrever é sofrer a comoção de um povo, que é o nosso. Cada palavra portuguesa é um ser vivo, arrancado, a sangrar, do nosso próprio ser, morrendo... Em cada palavra da nossa língua está um pouco de nós -- não o nosso corpo, mas a nossa alma, e se não a nossa alma, a nossa dor... A palavra portuguesa é o nosso corpo imortal, porque é espírito. O corpo em que a nossa alma vive aprisionada e escrava -- morre e apodrece, é barro e torna-se em cinza, e a cinza em nada... O nosso corpo é pó, que a nossa alma agita por instantes, na frágil e curta vida, para ser arrastado mais tarde, na morte, pelo vento -- que talvez seja a alma das coisas...
Mas o corpo da palavra não morre, nem apodrece, nem o arrasta o vento. Nasce para não morrer. Não é argila, nem é carne, embora, como em carne viva, dentro dele se ramifiquem veias, e dentro das suas veias se ramifique e palpite, com o calor duma brasa, sangue vermelho, o nosso sangue, a arder na brasa da nossa dor.
escreve bem português -- não quem for procurar com cuidado e arte, aos nossos dicionários, as palavras mais belas, mas quem for buscar, numa hora alucinada e inspirada de sofrimento e tortura, ao coração da nossa língua, as palavras mais sentidas, aquelas que a nossa comoção inventou e sofreu.
Porque é que quase todos os livros morrem e esquecem, logo que morrem os seus escritores? Porque foram escritos e pensados com as palavras dos «dicionários», e se muitos deles o não foram, foram somente molhados com uma emoção «pessoal». Só ficam os livros em que as palavras não foram rebuscadas «materialmente» nos catálogos, mas aquelas que foram procuradas «espiritualmente» na alma e na emoção do povo.
Cada palavra é um ser vivo e perfeito, com uma alma lá dentro: a nossa. Amemos por isso a língua portuguesa -- espírito gentil da nossa raça, e amêmo-la enternecidamente, como a nós mesmos se como o nosso mais rico e sagrado património, porque cada palavra que desaparece é um pouco de nós mesmos que vai também morrendo.
Dos prosadores que eu mais amo, por neles, em cada palavra sua, sentir Portugal -- no povo, na dor e na paisagem -- são Afonso Lopes Vieira, em que cada palavra é um ritmo, e cada ritmo o eco duma voz; Aquilino Ribeiro, em cujas páginas, ora cruéis e amargas, ora alucinadas, ora líricas, tumultua e delira, escaldante, o sangue sensual, perverso, bravio, mas humano, da gente da Beira; Carlos Malheiro Dias, continuador, mas com outro estilo, da elegância de Eça de Queirós, e Antero de Figueiredo que acaba de completar e apurar todas as suas faculdades de prosador e toda a sua sensibilidade portuguesa.. Escrever português não basta. É preciso que dentro de cada palavra se sinta a nossa alma lusíada. Mesmo na mais pequenina palavra deve sentir-se sempre um bocadinho de Portugal.
Antero de Figueiredo escreve para os nossos ouvidos e para a nossa alma. A sua prosa perturba-nos, enleva-nos, com a música das palavras e com o «interior» dessas palavras. Ler as páginas desta adorável «Espanha», em que perante a beleza enlevadora e alheia, se sente sempre a saudade de Portugal -- é pôr o ouvido na nossa paisagem e ouvir, comovida e estranha, a voz do nosso povo.
Dois trechos de «Espanha» maior alvoroço, inquietação e doçura puseram a minha sensibilidade: -- «A Vala dos Mortos», em Roncesvales, e a procissão do «Viático» que Antero de Figueiredo viu, do terraço dum solar.
«A vala dos mortos» é uma página alucinante. Fialho, que escreveu a «Ruiva» e «Os Ceifeiros», se fosse vivo, invejá-la-ia. Alucina, esmaga-nos, enche-nos de terror e espanto. Perturba e domina. Quando acabamos de ler essas páginas formidáveis -- sentimos a nossa alma amarfanhada, contorcida de pavor misterioso.
a Procissão do «Viático», numa noite calma e enternecida, põe uma nota de ternura a religiosidade no nosso coração. Antero de Figueiredo enche de poesia e perfume essas páginas do mais puro lirismo. Mais do que nunca Antero de Figueiredo é o escritor português, porque o escritor dum povo é sempre o seu intérprete. Pela pena dum escritor deve passar sempre a voz da sua gente. E é a alma da nossa gente, é a «terrinha» louvada e bendita de Portugal -- que nós sentimos vibrar perante a beleza alheia. 

Rebelo de Bettencourt, A Vida das Imagens, Lisboa, Ressurgimento, 1928, pp. 23-27.

Nota - Nacionalismos à parte, trata-se de uma esplêndida crónica de Rebelo de Bettencourt, homem do Portugal Futurista, mais tarde abraçando o nacionalismo mais conservador e católico, tal o de Antero de Figueiredo. A exaltação da palavra é absolutamente extraordinária: «Cada palavra é um ser vivo e perfeito, com uma alma lá dentro: a nossa.»



quinta-feira, 7 de julho de 2016

#2. "Uma máxima não pretende..." (José Bacelar, 1900-1960)

Prefácio - 1 - Uma máxima não pretende defender um ponto de vista ou indicar uma direcção; uma máxima constata, simplesmente. Não é pois um género actual.

José Bacelar, Revisão -- Anotações à Margem da Vida Quotidiana, Lisboa, Portugália Editora, 1935.

Comentário - José Bacelar, um moralista à antiga e à francesa. Arte de pensar (n)o cerne, ainda hoje menos actual, pois que parecemos caminhar, nos que às Humanidades respeita, para um novo período em que o pensar se atomiza em círculos cada vez mais restritos. Como, na Idade Média, nos mosteiros.

terça-feira, 5 de julho de 2016

#1. NOTAS PARA FAZER UM CONTO... (Maia Alcoforado, 1899-1974)


Ao Carvalhão Duarte

Ao cabo da estrada que de Cantanhede fica apontada ao mar -- uma recta enorme, tamanha como uns dez quilómetros bem puxados, enfadonha e triste, com três montes de casas poisados nas ilhargas e alguns fornos de cal enrodilhando de fumo negro a ramaria dos pinheiros -- velhos, com mais de um século e altos como alarves -- aparece-nos de enfiada na ponta do nariz a Vila de Mira, que, ao contrário de Cantanhede, comarcã e burguesa, afidalgada e petulante, não tem na sua monografia capítulo de monta, nem réstia forte de alambicada pretensão... Terra de gente ordeira que o vinho em dias de arraial ou de mercado não torna ruim, trabalhadora e honesta, com uma percentagem que mal se enxerga em pilhas e madraços, ciosa dos bens que por direito de herança aferroa e arrecada com jeito económico, mas sem modos de usura -- para aqui me cuspiu um solavanco brusco e destrambelhado da carripana que nos transporta do berço à sepultura, num dia aziago, de sol esplêndido e luminoso, brincalhotando no ar a chuva miúda do seu pólen doirado...
O povo mirão que anda à bulha com o mar uma grande parte do ano, porque é pescador que se arroja e atreve com as suas charrafuscas e motins e que desentranha a terra a golpes de enxada e amamenta os filhos nas arrevezadas lições do trabalho -- precisa que, de quando em quando, falem dele nestes lençóis onde se esculpem letras e estampam gravuras, porque anda até os gornes da garganta farto de tanto ostracismo que o tolhe e engarrafa.» Pois se é raro o mapa onde se topa o nome da terra... -- e tem foral, que recebeu das mãos venturosas do Senhor D. Manuel I e é concelho antigo e mais remoto fora se Cantanhede não lhe tivesse, sorrateiro, surripiado a primeira autonomia há mais de trinta anos...
Foi aqui que em 1856, a 26 de Março, se amesendou com a morte o mavioso e rebelde Francisco Joaquim Bingre -- o Francélio Vouguense da Nova Arcádia -- e que, aquando da fúria pombalina, se agacharam parentes dos Távoras -- de quem ainda agora há restos, numa degenerescência vulgar, doentia e inútil...
O solo é fecundo, porque de bem trabalhada no alqueive não há leira que não resplenda, nem brilhe; quintal que não sorria para a gente com o seu pomar e a sua horta; vinhedo que pelo São Tiago não tenha os bagos pintados, limpos, carnudos -- que os pardais depenicam numa orgia arreliadora de amarrotados gorjeios...
De um lado o mar; do outro, a gândara -- a enfaixá-la, a cingi-la, em sombras e em claridade.
O mar estrebuchando a toda a hora de encontro às casas dos pescadores, feitas de madeira velha e de originais feições -- a escoucinhar na areia e às trombadas nas dunas, berrando como um doido, barafustando de espinha dorsal erguida como tirano a quem não arrefece a ira...
A gândara, silenciosa e erma, de pinheiros hirtos como a soldadesca impávida que não se move nem pestaneja e por onde vagueiam sombras de que não se entendem as formas à maneira que o sol desanda na sua elipse -- alinhavada de carreiritos estreitos que em certa quadra do ano as moças que vão à cata das pinhas, à caruma e ao rapão, palmilham de bustos alçados e quadris coleantes, num formigueiro polícromo e alegre...
E, já que falo das moças, deixem-me concluir: -- nenhuma delas possui beleza clássica que entonteça, ou que perturbe, mas não lhes escasseia a graça dum sorriso tentador, e elegância fenícia, delevelmente mutilada e a luz vibrante duns olhos copiada da luz do sol à hora rútila das sestas...
Anda por aqui um doido que, como uma sombra, viscosa como a lama e trágica como o perfil de todas as sombras que o dedo maldito do fatalismo desenha e imprime nas paredes negras de certas vidas, leva as manhãs num vozeirão de tribuno, pletórico de frasalhões aprendidos e decorados no tempo em que ainda tinha juízo, a correr as ruas a a assaltar quem passa, protestando cóleras e inflingindo insultos, àquilo que ele supõe ser o morbus que destrói e deteriora os alicerces milenários da sociedade e do mundo, da civilização e dos costumes...
É alto e forte como as paredes mestras dos antigos castelos.
O seu carão moreno, semeado de rugas profundas, onde baila e vibra a chama azul e ingénua duns olhos que eu vi algures descritos nuns versos de Espronceda, tem a expressão indómita dum batalhador que não se deixa vencer a golpes de cutelo...
Às vezes fico-me a pensar se este doido que anda por aqui, só nas manhãs em que o sol doira os prados e as veigas, namorado da luz, arremedando com a sua cabeleira que lhe cai desmazeladamente sobre os ombros, os Apóstolos e os revolucionários, não devia ser cuidadosamente escutado por tantos que por aí andam a semear teorias e a impingir princípios -- de que nunca se vêm os fins...
Talvez que aprendessem com o doido -- com este doido que num vozeirão de tribuno, apregoa, em frases onde abunda o bom estilo e onde não escasseia a ironia que contunde, fere e faz sangrar, aquilo que para ele e para muitos que passam por doidos, mas que têm juízo às carradas -- é a traça e o gorgulho que dizima e rói as aduelas do mundo e as arcadas sobre que assenta a civilização...

1945

Paisagem do Dia Ausente, Porto, Edições AOV, 1947


Comentário - Um texto, como tantos outros, de exaltação da terra de adopção, com introdução de um característico do lugar, que sempre os há. Mas também há expressões que me fascinam, denotando um trabalhar lúdico das palavras: "para aqui me cuspiu um solavanco brusco e destrambelhado da carripana que nos transporta do berço à sepultura", "brincalhotando no ar a chuva miúda"; "amesend[ar-se] com a morte".